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Desenho de Rick |
Crianças são seres encantadores! Minha mente é povoada por
cenas e imagens marcantes de crianças – reais e fictícias – que
redesenharam a geografia do meu ser, reconfigurando o meu 'sentir o mundo'. Eis
alguns exemplos do meu portfólio:
Hassan, da obra 'O caçador de pipas', de Khaled Hosseini, transmitiu-me, de modo
singular, a fragilidade inerente àqueles
de idade pueril, gerando luto em mim ( em seu contexto histórico-social, havia
muitas crianças, mas pouca infância).
Nullah, do filme Austrália, levou- me a irrigar com lágrimas o
meu sofá. Todavia, sua argúcia trouxe-me um reconforto, arrematando de mim até
risos!
Lúcia, que imprime gracilidade à adaptação cinematográfica da
série de Lewis – As Crônicas de Nárnia – , parece ratificar quão justa a
herança de alvará do Reino dos Céus dada às crianças. Sua afeição a Aslam é
estonteante! O coração infantil não se engana; reconhece, instintivamente, a
perfeição.
Ah! E quanto ao protagonista infantil do longa 'Quem quer
ser um milionário'? Encantamento! Este
foi o meu estado ao visualizar a
atuação de Ayush Mahesh Khedekar. Neste filme, Jamal Malik
– criança – parecia pertencer a outra
esfera de vida. Aliás, penso que as crianças fazem parte de uma dimensão
inescrutável ou, talvez, (fale-se baixinho!) de
uma Ordem Secreta Divina!
Da animação, destaco Mano, o infante pinguim, de Happy
Feet( pés felizes), cuja saga nos alerta para o fato de como devemos
ser mais sensíveis à diversidade de expressão demonstrada desde a infância.
Filme lindo, um espetáculo em que música e sentimento decantaram minha alma!
A história de Happy
Feet induz-me a Rick, um ex-aluno,
portador de uma deficiência – pernas
mirradas – condição que não o impedia de
correr, a todo momento, nas vias da escola em que nos conhecemos e tecemos
diálogos interessantes. Um desses, quero registrar. Temo esquecer uma
experiência que me fortaleceu enquanto me fragilizava.
— Como você age com os colegas que fazem brincadeiras – bullying, na verdade – com relação a sua
deficiência? — perguntei, tentando sublimar meu pesar.
— Ah, eu não me importo muito, mas no fundo fico triste. —
disse, com olhar distante.
Encorajei-o, enaltecendo suas qualidades e mudei de assunto.
Rick não deixava, nenhum dia sequer, de me cumprimentar ou
me ofertar um gesto de carinho (ai daquele que se candidatasse a ajudar a
carregar o meu material!). Havia momentos em que duvidava sobre qual de nós
cuidava de quem.
Penso que há um mistério – cujo descerramento aguardo com
ânsia desmedida – em torno destes entes sagrados. As crianças aqui apresentadas
– dentre muitas outras – ajudaram-me a ajuizar
que se há alguma coisa para a qual nasci, seja por vocação ou invocação, foi para isso: contemplar o coração infantil; de tal modo, sinto- me
mais próxima do céu!
Professora Rosana Souza